Mais uma noite muito complicada...
Doente de 46 anos, sexo masculino, entrado na sala de emergência, por tentativa de suicídio por enforcamento, marcas visíveis de estrangulamento no pescoço, edema extenso das partes moles, suspeita de lesão cervical com compromisso vertebro-medular, provável anóxia cerebral, score 8...parametros vitais reduzidos, 74 de oximetria.
Doente não responde a ordens simples, midriase, coma...
Após a intervenção da equipa de anestesia e de cirurgia geral, e depois de várias tentativas de entubação oro traqueal pela anestesia que se revelaram infrutíferas bipámos a equipa de maxilo-facial que iniciou manobras para nova entubação...doente com lesões graves na traqueia o que impediu a passagem do tubo...Depois de muitas tentativas feitas com a oxigenação do sangue sempre a baixar e os valores de oximetria muito inferiores ao desejável, a cirurgia optou pela traqueostomia...perfuração do pescoço para introdução de uma canula que vai permitir ventilar mecanicamente o doente com o apoio de um ventilador na forma de respiração artificial.
Cá fora estavam a mulher e dois filhos do paciente que tínhamos na sala e que apesar de todos os esforços desenvolvidos estava, clinicamente morto. Saí da sala por momentos para ir buscar material à pequena cirurgia, e cruzei-me com a senhora que lavada em lágrimas, me puxou um braço e disse:
Diga-me, ele salva-se? Já dei por ele tarde demais...estava roxo.
Parei, e disse: Vamos ver, mas está muito complicado, e fugi dali rápido...ainda a ouvi ao longe dizer...
Mas porquê isto.... havia esperança, tudo se ia resolver....
Não indaguei os problemas que levaram o senhor a cometer tamanha loucura, não julgo ninguém, e reconheço que por vezes a razão prega-nos partidas, mas tenho por norma que todos os problemas têm solução, e os que não têm solução à partida já estão resolvidos...
E esta não é de certeza a solução.
Uma coisa é certa, cada vez mais nós profissionais de saúde somos confrontados com verdadeiras tentativas de suicídio, de quem quer muito morrer e sabe a maneira certa de fazê-lo.
Nesta altura do ano onde a solidão bate mais forte, a miséria se exponencia, e a falta de dinheiro, dos amigos ou da família se sentem com mais intensidade, acontecem mais tentativas de suicídio, em todos os turnos as há, a grande maioria são apenas ameaças, tentativas, mas outras vezes tal como hoje....a tentativa resulta em sucesso.
Para mim, ficou mais uma vez a verdade da realidade escondida, por detrás da alegria do Natal....
Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay!!!!
Cá fora estavam a mulher e dois filhos do paciente que tínhamos na sala e que apesar de todos os esforços desenvolvidos estava, clinicamente morto. Saí da sala por momentos para ir buscar material à pequena cirurgia, e cruzei-me com a senhora que lavada em lágrimas, me puxou um braço e disse:
Diga-me, ele salva-se? Já dei por ele tarde demais...estava roxo.
Parei, e disse: Vamos ver, mas está muito complicado, e fugi dali rápido...ainda a ouvi ao longe dizer...
Mas porquê isto.... havia esperança, tudo se ia resolver....
Não indaguei os problemas que levaram o senhor a cometer tamanha loucura, não julgo ninguém, e reconheço que por vezes a razão prega-nos partidas, mas tenho por norma que todos os problemas têm solução, e os que não têm solução à partida já estão resolvidos...
E esta não é de certeza a solução.
Uma coisa é certa, cada vez mais nós profissionais de saúde somos confrontados com verdadeiras tentativas de suicídio, de quem quer muito morrer e sabe a maneira certa de fazê-lo.
Nesta altura do ano onde a solidão bate mais forte, a miséria se exponencia, e a falta de dinheiro, dos amigos ou da família se sentem com mais intensidade, acontecem mais tentativas de suicídio, em todos os turnos as há, a grande maioria são apenas ameaças, tentativas, mas outras vezes tal como hoje....a tentativa resulta em sucesso.
Para mim, ficou mais uma vez a verdade da realidade escondida, por detrás da alegria do Natal....
Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay!!!!
Temos demais, querida AC, queremos demais e quantas vezes só travamos quando já é demasiado tarde. Ninguém está a salvo, era bom que todos tivéssemos consciência do que era a vida e do que eram as relações humanas no tempo em que os nossos avós cresceram. Talvez evitássemos muitas destas situações aparentemente incompreensíveis.
ResponderEliminarAcho que cada vez mais a taxa de suicídio está a aumentar, devido à solidão, à crise, etc. É muito triste...
ResponderEliminarEu não seria capaz de cometer suicídio, acho que sou demasiado fraco, porque motivos até já tive.
ResponderEliminarMas suicídio por enforcamento... exige uma vontade imensa.
Também já vi alguns casos, marca-nos.
Ness: Queremos tudo, e demasiado rápido...
ResponderEliminarSim eu sei que a vida dos nossos avós e até dos nossos pais era muito difícil...a mãe conta coisas que se passavam, que me arrepiam:)
SuperSónica: Deve ter disparado mesmo, porque são raros os turnos em que não recebemos intoxicações medicamentosas, auto agressões e mais coisas...
A crise ajudou..o desemprego e a fome fizeram o resto:)
Manuel: Eu também acho que não era capaz..tinha medo de morrer mesmo, e gosto demasiado de viver.
Um enforcado é um espectáculo aterrador... pela quantidade de fluidos libertados, pelas marcas assustadoras no pescoço, e pela face da pessoa...Marca pois!
Eu também não consigo arranjar nenhum motivo válido para o suicídio, esse que é o acto mais cobarde e mais corajoso que existe...
ResponderEliminarFireHead: São escolhas que não entendemos, e cada um faz as suas...:P
ResponderEliminar!!!!!!!!
ResponderEliminarA vossa vida profissional por vezes? (ás vezes? sempre?) deve ser muito complicada.
ColumbiaU-NY
Anónimo ColumbiaU-NY: A nossa vida é complicada sim. Muito trabalho, uns horários difíceis, dormimos de dia, trabalhamos de noite, e somos a maior parte das vezes confrontados com a inutilidade dos nossos esforços...
ResponderEliminarE às vezes, trazemos as imagens do trabalho para casa...
Beijo* Columbia boy
AC, tal como tu sou também profissional de saúde, e cvoncordo quando referes não julgar ninguém, pois cada um sabe o que sente e como sofre, e nem toda a gente consegue gerir as adversidades da mesma forma..... beijo
ResponderEliminarPetra:Boa, em que área especifica tdt, ou colega?
ResponderEliminarFiquei cheia de curiosidade...
Tenho pena que as pessoas não consigam reagir, e ultrapassar as dificuldades de outra forma...é triste.
Petra: Ai que me esqueci...
ResponderEliminarbeijo*
muito triste essa história. mesmo. não me admira que tal aconteça... sei de muitas,mesmo muitas histórias de suicidio e muitas de tentativas. sei de outras (duas), que foi só para chamar a atenção mas realmente morreram... enfim, muito triste.
ResponderEliminarMaria: Já tive duas colegas de profissão que se suicidaram, quem quer verdadeiramente matar-se, faz bem feito e consegue, infelizmente.
ResponderEliminarVou confessar um coisa. Desde há uns anos para cá que acho o Natal uma época pouco alegre! Vêm ao de cima todas as emoções, toda a saudade, todas as perdas... Valham-nos as crianças! **
ResponderEliminarMalena:Também já gostei mais do Natal do que agora...stressa-me, e não gosto desta obrigatoriedade de ter que comprar coisas...só porque sim, porque é Natal!:)
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